
Os primeiros fios brancos de uma barba por fazer indicam um passado cheio de histórias para Pedro Iarley Lima Dantas, ou apenas Iarley, agora um ex-jogador de futebol aos 40 anos. São lembranças que remetem ao jovem que, mesmo à revelia, entregou o boletim de conclusão do ginasial à mãe com uma mochila nas costas, saindo ainda adolescente de Quixeramobim, cidade a 200km de Fortaleza, com o intuito de abraçar o mundo. E conseguir. Duas vezes. Sempre com muita disposição para enfrentar as adversidades - não foram poucas -, superá-las e ajudar outros a fazer o mesmo.
Ajudar sempre foi um verbo presente em sua vida. Desde quando atuava pelo Ceará, clube do coração, e ia à noite tirar companheiros de time, insatisfeitos com salários atrasados, da balada para levá-los de volta à concentração. Abrindo mão, inclusive, dos próprios vencimentos.
Ajudou a colocar o Paysandu no mapa do futebol internacional. O golaço contra o Boca Juniors na Bombonera atiçou o interesse dos xeneizes. Depois de uma frustrada experiência no Real Madrid anos antes, Iarley foi se aventurar além das fronteiras novamente. Desta vez, para, com a camisa de Maradona, conquistar o mundo e manter a aura de multicampeão do clube argentino.
O espírito colaborativo de Iarley foi convocado novamente no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Ao chegar à capital gaúcha, em 2005, o jogador ouvia o clamor de torcedores sofridos, ávidos por uma Libertadores. Tudo para fazer frente ao maior rival. Iarley foi e ajudou. No Inter, viveu o apogeu, ajudou a reconstruir um clube. Às margens do Guaíba, viu terra arrasada se transformar em Eldorado. Com um passe perfeito, ajudou o contestado Gabiru a conhecer a glória, conquistando o mundo pela segunda vez.
Até mesmo no crepúsculo de sua carreira, Iarley tentou ajudar o Ferroviário, onde tudo começou, a escapar do rebaixamento no Campeonato Cearense. Não conseguiu. Afinal, algumas ajudas são impossíveis. Como aplacar o sofrimento de uma perda irreparável? Para Iarley, pior que não poder ajudar alguém, é a dor da perda precoce daquele que foi seu maior companheiro no futebol e de quem foi o maior ajudante. Com Fernandão, obteve mais que vitórias. A amizade fraterna com o capitão, morto em junho, talvez seja a maior lembrança que ele leva da carreira.
Após quase 20 anos como profissional, Iarley encerrou sua trajetória. A mochila voltou ao Ceará carregada de títulos e histórias. Hoje, ele mostra a disposição que nunca faltou para os treinamentos atuando como sócio de uma empresa que fabrica panelas de alumínio na mesma capital cearense onde surgiu para o futebol. E foi lá, em meio ao expediente de uma manhã de feriado, que ele recebeu o GloboEsporte.com.
Você pensa em voltar para o futebol de alguma forma, como dirigente, como técnico?
Sou uma pessoa que traça metas curtas. Eu não penso muito no futuro. Hoje estou me dedicando a alguns negócios meus, particulares, e dei um tempo no futebol. Aí todo mundo fica me cobrando. Até poderia ir trabalhar no Inter, só que eu tô resolvendo esse meu lado pessoal primeiro para depois, quando tiver tudo organizado, pensar e analisar o que eu vou fazer no lado do futebol.
Fonte: João Marcelo Sena
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